Só o Pai é Deus? De maneira alguma! (João 17:3)

João 17:3 afirma que Deus Pai é o único ser absolutamente divino? Não é isso o que o texto diz. Leiamos:
“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.
Alguns têm usado essa declaração de Jesus para negar a absoluta divindade de Cristo, tão bem definida em Isaías 9:6, que O chama de “Pai da Eternidade”; em Atos 3:15, que o qualifica como “Autor da Vida”; e tão claramente definida (entre muitos outros textos) em Colossenses 2:9, onde Jesus é apresentado como um ser absolutamente divino em quem “habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”.
Todavia, se em João 17:3 Cristo estivesse dizendo que o Pai é “o único Deus verdadeiro” em comparação com Ele mesmo, teríamos de supor que Cristo é um deus falso. Percebe o grande problema? Cristo estaria depondo contra si mesmo, pois a Bíblia diz que Ele é Deus (Jo 1:1-3; Rm 9:5). Não tem como a Bíblia chamá-Lo de Deus e Ele mesmo afirmar que só o Pai é verdadeiro (e Ele, Jesus, falso), entende? Deus sempre será a verdade (Jr 10:10) e Cristo faz parte dessa divindade que é a verdade (ver Jo 14:6).
Em sua oração sacerdotal em João 17, Jesus não está contrastando Sua natureza com a do Pai, e sim contrastando a natureza divina do Pai com os falsos deuses pagãos. Ele está focando “a necessidade de as pessoas reconhecerem o único Deus verdadeiro em oposição aos ídolos e outros falsos deuses”, e também enfatiza nesse texto “a necessidade de reconhecê-Lo como meio de Salvação”[1].
Quando a Bíblia compara a Jesus com o Pai, ela não apresenta apenas Deus Pai como Deus Verdadeiro. Veja o que o mesmo autor do evangelho de João escreveu em sua 1ª Carta:
“Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna (1Jo 5:20).
Note que nesse texto o apóstolo João chama a Jesus de Deus verdadeiro e fonte de vida eterna.
Por isso, os antitrinitarianos (os que são contra a doutrina da Trindade) não deveriam usar João 17:3 para negar a absoluta divindade de Jesus Cristo. Fazer isso é desrespeitar o texto bíblico e tirar dele uma ideia que não existe.
Além disso, noutro contexto, em João 10:30, quando Jesus comentou sobre Sua relação com o Pai, Ele se colocou no mesmo nível de Deusao ponto de quererem apedrejá-Lo por blasfêmia (Jo 10:31-33). Em João 10:30 Ele afirmou claramente que Ele e o Pai eram “um” no sentido de serem unidos tanto em amor quanto na essência divina (veja-se também Colossenses 2:9).
Esse conceito de unidade essencial entre as Três Pessoas da divindade combate qualquer tipo de politeísmo porque, ao contrário da doutrina bíblica da Trindade, que ensina existir Três Pessoas distintas que formam a divindade e que possuem a mesma essência (Mt 28:19; Jo 14:16; 2Co 13:13, etc), o politeísmo ensina existirem deuses com diferentes essências divinas e distintos poderes. Enquanto que a doutrina da Trindade iguala as Pessoas que formam a divindade, o politeísmo desiguala, apresentando um deus melhor e mais poderoso do que outro.
Desse modo, o conceito de Triunidade encontrado na Bíblia nada tem a ver com politeísmo, como afirmam alguns que estão desinformados em relação ao assunto.

DOIS TIPOS DE TEXTOS SOBRE JESUS
Algumas pessoas sinceramente não sabem (outros, ignoram) que na Bíblia há pelo menos dois tipos de versículos que tratam da natureza de Cristo. Precisamos considerá-los juntos, se quisermos aprender tudo aquilo que nos foi revelado sobre a Pessoa de Jesus na Bíblia.
Nas Escrituras encontramos textos que mostram o Salvador no mesmo nível que Deus Pai (Colossenses 2:9) e versos que O mostram numa condição inferior ao Pai (João 14:28).
- Os versículos que colocam a Cristo no mesmo patamar que as demais pessoas da divindade se referem a Ele em Sua natureza divina.
- Já os versos que apresentam a Jesus numa condição “inferior” se referem a Ele em Sua condição encarnada, na qual se encontra subordinado ao Pai.
Essa subordinação de Cristo é apenas funcional e não essencial. Devido à Sua encarnação, Ele assumiu uma função inferior ao Pai, limitando voluntariamente até mesmo a própria Onisciência (Mt 24:36). Porém, na sua essência como Deus, Cristo em nada difere do Pai, tanto que reassume totalmente Sua Onisciência após Sua ascensão: “[...] para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.
Resumindo, podemos dizer, como Geisler e Howe[2]:
Ilustração - Divindade de Cristo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espero que essas breves considerações tenham lhe ajudado. Caso queira se aprofundar ainda mais no estudo da doutrina da Trindade, recomendo umas poucas obras que lhe serão bastante úteis:
A Trindade: como entender os mistérios da pessoa de Deus na Bíblia e na história do cristianismo, de Woodrow Whidden, Jerry Moon e John W. Reeve. Pode ser adquirida com a Casa Publicadora Brasileira pelo site www.cpb.com.br ou pelo telefone 0800-979 0606.
A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento, de Stanley M. Horton. Esse material foi publicado em língua portuguesa pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) e pode ser adquirido no site www.cpad.com.br
Evangelismo, de Ellen G. White. Nas páginas 613 a 617 ela apresenta declarações belíssimas sobre a divindade de Cristo e a personalidade e divindade do Espírito Santo. O material também é da Casa Publicadora Brasileira.
- A Teologia Sistemática de Norman Geisler também poderá ser bastante útil em sua pesquisa. No vol. 1, cap. 12, intitulado “A Unidade e a Trindade de Deus”, há inclusive uma seleção de textos que comprovam a identificação de Cristo com Javé do Antigo Testamento. Essa obra também pode ser adquirida através da CPAD.
Um abraço e que Deus lhe abençoe ricamente!




[1] Max Hatton, Understanding the Trinity (Alma Park Grantham, Linconlnshire, England: Autumn House, 2001), p. 78.
[2] Norman Geisler e Thomas Howe, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia(São Paulo: Mundo Cristão, 1999), p. 428.



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